Grande parte de nosso conhecimento sobre o câncer e tratamentos oncológicos nasce de um processo de intensa pesquisa e resulta de um esforço coletivo de toda comunidade científica para entender mecanismos pelos quais o câncer nasce e sobrevive e como podemos interferir neste processo combatendo as células estão se multiplicando de maneira desordenada.
Quando pensamos em uma nova medicação ou um novo método de tratamento para o câncer, até que ele seja amplamente aplicado em pacientes, existe um ritual científico a ser percorrido para garantir a segurança dos tratamentos e atestar seu real valor no combate a doença. Ótima idéias podem fazer sentido no papel ou em algumas situações específicas, mas quando testadas na prática – de maneira generalizada – podem não funcionar tão bem.
Começo com um exemplo bem comum: vamos supor que fosse encontrada uma determinada substância em um tipo de bananas, que se apresenta como um potencial agente anti-câncer e mata células de doença quando colocada em contato em um modelo experimental (um tubo de ensaio, por exemplo). Poderíamos pensar, num primeiro momento, que descobrimos que a banana é eficaz no tratamento do câncer. Mas existem coisas importantes a serem consideradas.
Primeiro, que o que testamos foi um tipo de banana. Assim como temos variantes como a banana ouro, a prata, a nanica e a maçã com seus sabores e características distintos entre si, não se pode generalizar o resultado do experimento para todas as bananas, pois o efeito foi observado somente com um tipo de banana testado. Além disso, a substância da banana entrou em contato com um tipo de célula cancerígena no qual se mostrou eficaz e nem todas as células de tumor são iguais. Uma neoplasia pode ter – até dentro do mesmo nódulo ou tumor – células muito distintas entre si. Assim, no máximo, poderíamos afirmar que a substância daquele subtipo específico de banana é eficaz em matar células específicas também de um determinado tipo de câncer que colocamos no tubo de ensaio. Por fim, é preciso entender que nem sempre funcionar no tubo de ensaio é sinônimo de que vai funcionar dentro do corpo de uma cobaia ou do ser humano. Até a substância chegar no local onde esta o tumor, ela passa por processos de transformação na sua absorção, é processada pelo fígado, sofre influência de diversos mecanismos bioquímicos que alteram suas propriedades e podem até transforma-la em algo mais tóxico que benéfico.
Por isso, toda novidade em oncologia deve sempre ser analisada dentro de seu contexto específico e não pode ser generalizada como algo aplicável amplamente para todas as pessoas e em todos os tipos de tumores. Chegamos aqui na importância de onde provém as informações sobre novidades em oncologia.
Locais sérios em seu processo de informação, tomam muito cuidado ao anunciar novidades na área da saúde, especialmente em um setor tão delicado como o tratamento do câncer. Jamais, em canais sérios, veremos notícias sensacionalistas ou que tentam identificar avanços da ciência como soluções definitivas (e simplificadas) para problemas tão complexos. E todo cuidado é pouco em nossa era de desinformação: as vezes, a simples captura de uma visualização ou compartilhamento de uma informação pode gerar lucro para alguns sites e isso é explorado ao máximo para fazer dos pacientes e familiares veículos para disseminar informações imprecisas e até falsas.
Na dúvida, sempre traga informações para discussão com seu médico ou com a equipe de saúde. E se for compartilhar na tentativa de ajudar alguém, sempre faça um alerta na sua mensagem: “não sei se isso se aplica a você, mas você deveria conversar com seu médico sobre essa novidade”. Assim, não se criam esperanças que podem ser frustrantes para quem passa por um tratamento tão delicado.